A cineasta cachoeirana Everlane Moraes inicia em outubro as filmagens de O Segredo de Sikán, seu primeiro longa de ficção, nas cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo Baiano. A produção é uma parceria entre a Carapiá Filmes e a Pattaki Audiovisual, e reúne grandes nomes do cinema nacional e atores locais.
O elenco principal conta com Grace Passô, primeira dramaturga negra a vencer o Prêmio Shell; Sérgio Laurentino, do Bando de Teatro Olodum e do filme Besouro (2009); Noélia Montanhas, de Tieta do Agreste (1996); e Severo D’Acelino, conhecido por Chico Rei (1985) e Velho Chico (2016). Também integram o elenco Taise Paim, Sara Barbosa e Heraldo de Deus.
Com elenco formado exclusivamente por artistas negros e negras, o filme revisita o mito africano da princesa Sikán, escolhida por uma divindade para guardar um segredo capaz de trazer paz ou guerra ao mundo. Condenada por homens que temiam seu poder, Sikán é reinterpretada pela diretora, que subverte o mito original e transforma o destino da personagem em uma trama marcada por drama, mistério e resistência.
A narrativa se passa em um mundo distópico e noturno, atravessado por fenômenos naturais, disputas territoriais e tensões sociais. Segundo a história, ao proteger o segredo, Sikán lançou-se ao rio Oddán, na Nigéria, e transformou-se em um peixe luminoso que viaja até o rio Paraguaçu, provocando um confronto entre Cachoeira, cidade matriarcal, e São Félix, cidade patriarcal.
Entre os personagens centrais, Grace Passô interpreta Sara, inspirada na artista cubana Belkis Ayón, que representou o mito em suas gravuras; Sérgio Laurentino vive Ajamu, guerreiro que manipula o poder de Sikán; Severo D’Acelino é Nasakô, um ancião cego guardião dos mistérios do rio; e Noélia Montanhas interpreta a Matriarca Perpétua.
“Queríamos um elenco com a cara do Recôncavo, formado por pessoas negras e moradores locais. Gosto de trabalhar com não-atores, pois eles trazem vivência, verdade e frescor à cena”, afirma Everlane Moraes. A diretora destaca ainda a adesão de intérpretes de 8 a 80 anos, em um processo que uniu artistas experientes e novos talentos do território.
A partir do realismo fantástico, o filme aborda temas como protagonismo feminino, aquilombamento e resistência negra, dialogando com elementos culturais e afro-religiosos, como a Procissão da Boa Morte, símbolo do sincretismo entre o catolicismo e as religiões de matriz africana.
O Segredo de Sikán é uma coprodução da Carapiá Filmes e Pattaki Produções, com distribuição da Embaúba Filmes, mesma distribuidora de Marte Um (2023), de Gabriel Martins. O projeto conta com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual da ANCINE e da Lei Paulo Gustavo Bahia.
Foto: divulgação
