O espetáculo Dembwa, dos artistas Marcos Ferreira e Ruan Wills, retorna aos palcos com temporada gratuita em Salvador e Região Metropolitana, como parte do projeto “Dembwa – Mapear o Movimento: tempo, memória e ancestralidade”. As apresentações acontecem em três regiões: centro, cidade baixa e RMS, com sessões no Espaço Xisto Bahia (18 e 19 de julho, às 20h; e 20 de julho, às 18h), no Centro Cultural Lauro de Freitas (26 de julho, às 17h) e no Centro Cultural Alagados (27 de julho, às 18h). Em cada local, uma das apresentações será seguida de bate-papo com os artistas.
Desde sua estreia em Salvador, no fim de 2023, Dembwa já passou por cidades do interior da Bahia, como Paulo Afonso e Feira de Santana, e integrou eventos como o Festival Internacional de Dança do Recife e a Plataforma Nacional de Artes Negras. A circulação tem ampliado o contato da obra com diferentes públicos e territórios, fortalecendo sua escuta e presença em cena.
O espetáculo se constrói a partir das memórias de Marcos e Ruan — homens pretos, periféricos, bixas, dançarinos e filhos de terreiro. “Dançar Dembwa é lembrar quem nos sonhou. É acessar o tempo como espiral, como chão. É perguntar: qual o seu chão?”, dizem os artistas. A obra propõe uma coreografia ancestral em ato contínuo, que atravessa sambas de caboclo, danças de orixás, pagode baiano, funk, silêncio e reza.
A dramaturgia investiga a memória como um arquivo vivo, também presente na estética: o figurino em patchwork, feito com retalhos e sobras de tecidos, encena lembranças, reconstrução e o corpo como costura de tempos. Pregadores ganham novos significados durante a cena, e o chão se revela guia.
As danças das religiões de matriz africana são apresentadas como tecnologias do tempo: a caça de Oxóssi, a espada de Ogun, o silêncio de Obaluaê, o fogo de Xangô, as águas de Oxumarê e das yabás — orixás femininos que regem os ciclos da vida. A cena conecta rito e rua, saberes ancestrais e expressões da contemporaneidade periférica. “Percebendo as encruzilhadas que nos aproximam, bem como nossas experiências de vida e as histórias que traçam a trajetória dos nossos familiares — e que também se assemelham às histórias de tantas pessoas pretas no Brasil — nasce Dembwa”, explica Ferreira, que também dirige o Grupo Jeitus de Dança e o Balé Jovem de Cajazeiras.
Além da temporada, o projeto realiza uma residência artística com artistas pretos/as e LGBTQIAPN+ da Bahia, selecionados por convocatória pública. Participam Matheus Nazaré, Sauane Costa, Lara Carvalho, Maximu Maxima, Larissa Lima, Odara Ferreira, Ícaro Ramos, Adam Akuma, Oa Assumpção e Quilomba Zu. Sob a orientação de Ferreira e Wills, os encontros geram partilhas coletivas e criações autorais, que serão apresentadas ao público no dia 14 de julho, no Espaço Xisto Bahia. A residência propõe um campo de escuta e invenção, onde o corpo se reconhece como arquivo e encruzilhada.
O projeto “Dembwa – Mapear o Movimento: tempo, memória e ancestralidade” é realizado com apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura via Política Nacional Aldir Blanc – PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura – Governo Federal.
Fotos: Alice Rodrigues