No próximo domingo, 8, o Sesc Vila Mariana, em São Paulo, será palco de um encontro que celebra a riqueza da tradição oral africana. Os renomados contadores de histórias Cici de Oxalá e Mario Omar irão ministrar a aula-espetáculo “Oratura”, a partir das 19h. Com entrada gratuita, o evento convida o público a mergulhar nas profundezas da cultura bantu e iorubá, um convite a vivenciar e aprender com mestres da oralidade.

A aula-espetáculo vai além de uma simples apresentação de histórias, oferecendo uma verdadeira roda de saberes. Cici e Mario irão compartilhar, por meio de contos, provérbios, cânticos e musicalização africana, os elementos fundamentais da cosmovisão ancestral. O objetivo é reviver e preservar as tradições de transmissão de conhecimento oral, uma prática que atravessa gerações desde tempos imemoriais.

Voltado a um público diversificado, o evento é especialmente direcionado a educadores, contadores de histórias, membros de religiões de matriz africana, bem como a todas as pessoas negras que se identificam com o tema. Ao celebrar a oratura, a atividade reforça a importância de manter vivo o legado cultural africano, que se entrelaça com a história e identidade do Brasil.

Mario Omar, pesquisador e arte-educador da tradição oral, explica que a proposta do evento é fortalecer a propagação do conhecimento empírico, mantendo viva a herança da cultura africana no Brasil. Ele destaca a importância da vivência que será compartilhada em São Paulo. “Levar para São Paulo essa vivência que fala sobre a Bahia e as tradições iorubá e bantu será uma experiência cheia de axé. Vamos fazer uma roda de saberes ancestrais pautada nos conhecimentos antigos”, afirma Mario.

Ele ainda faz questão de ressaltar a importância de aprender com Cici de Oxalá, que é considerada uma das maiores mestras da tradição oral. “Foram as mulheres negras que socializaram a Bahia e o Brasil, então ouvir e aprender com uma mulher negra sobre tradição oral é muito importante”, declara Mario Omar.

Cici de Oxalá, conhecida como Vovó Cici, é uma das principais referências do Brasil no campo da tradição oral. Nascida no Rio de Janeiro e radicada na Bahia, a contadora de histórias de 83 anos é uma das maiores representantes da oratura banto, prática fundamental da cultura africana. Sua contribuição é tão significativa que ela foi condecorada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia, em reconhecimento à sua dedicação em manter vivas as tradições afro-brasileiras.

A tradição oral, que antecede a escrita, sempre foi a principal forma de transmissão de sabedoria em muitas culturas, principalmente na África. Os contadores de histórias, conhecidos como “reis da palavra”, eram responsáveis por ensinar e entreter a comunidade com suas narrações. Utilizavam os contos para exortar os enfermos, alegrar as noites e até mesmo transmitir conhecimentos sobre a agricultura. Nos dias atuais, os contadores de histórias continuam adaptando essa prática para os tempos modernos, mas com o mesmo propósito: preservar e transmitir a sabedoria ancestral.

Foto: Erika Maia