Boca de Brasa é o começo: o desafio é o que fazemos a seguir

Nas periferias brasileiras, onde o concreto das ruas contrasta com a criatividade das comunidades esquecidas, surge um movimento como um grito de resistência contra a marginalização sistêmica. O Movimento Boca de Brasa não é apenas um festival cultural; é uma afirmação de identidade, uma demanda por reconhecimento e uma oportunidade de romper com as correntes da invisibilidade imposta às periferias.

De acordo com pesquisas recentes, as favelas brasileiras representam uma parcela significativa da população do país, com mais de 13 mil comunidades espalhadas por todo território nacional. Estima-se que essas áreas abriguem cerca de 17,9 milhões de moradores, contribuindo com uma renda que ultrapassa os R$ 200 bilhões anualmente.

É fácil ignorar a importância vital dessas comunidades quando se está confortavelmente instalado nos centros urbanos, distante dos desafios diários enfrentados por aqueles que habitam as bordas da sociedade. No entanto, os números não mentem: as favelas brasileiras são um estado dentro do estado, com uma população e uma economia que rivalizam com muitos países. Então, por que continuamos a fechar os olhos para o potencial explosivo dessas comunidades?

Apesar desse impacto econômico e demográfico substancial, as periferias continuam sendo tratadas como territórios de segunda classe, negligenciadas pelas políticas públicas e sujeitas a altos índices de violência, desemprego e falta de acesso a serviços básicos. Iniciativa da Prefeitura de Salvador, através da Fundação Gregório de Mattos (FGM), órgão vinculado à Secretaria de Cultura e Turismo (Secult),  o Movimento Boca de Brasa surge como uma resposta urgente a essa realidade, destacando a importância vital das periferias e exigindo uma mudança radical na forma como são vistas e tratadas pela sociedade e pelo Estado.

O projeto que começou em 2013 é uma luz em meio à desconsideração política e social, oferecendo um espaço de expressão e empoderamento para os talentos escondidos das periferias. Mas por que precisamos de um movimento para nos lembrar da existência dessas comunidades e de sua contribuição para a riqueza cultural e econômica do país? Por que não é prioridade do Estado investir em educação, cultura e desenvolvimento econômico nessas áreas?

A verdade é que aqueles que nascem nas favelas são sistematicamente invisibilizados e colocados à margem da sociedade desde o momento em que entram neste mundo. São condenados a um ciclo interminável de falta de oportunidades, estigmatização e violência estrutural que os mantém presos em um estado de desvantagem permanente. O Boca de Brasa não é apenas um festival; é um lembrete de que todos merecem ter suas vozes ouvidas, suas histórias contadas e suas contribuições reconhecidas.

Um festival por si só não é suficiente para desafiar as estruturas de poder arraigadas que perpetuam a desigualdade e a exclusão nas periferias. É preciso um compromisso real com políticas públicas que priorizem o investimento nessas comunidades, não só durante os momentos de celebração, mas todos os dias do ano. É preciso questionar por que os recursos continuam a fluir para os centros urbanos enquanto as favelas são deixadas para trás.

O Boca de Brasa nos convida a questionar nossos próprios privilégios e preconceitos, a desafiar nossas noções preconcebidas sobre as periferias e a reconhecer o valor intrínseco de cada indivíduo, independentemente de onde ele nasceu. É hora de abandonar a indiferença confortável e exigir uma mudança real, uma mudança que reconheça e valorize o potencial transformador das periferias para o Brasil como um todo. O Movimento Boca de Brasa é o começo; o verdadeiro desafio é o que fazemos a seguir.

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O Portal Diáspora se propõe a ser um espaço aberto para discussões em todo o contexto cultural, promovendo a valorização e visibilidade de contribuições negras em diversas áreas. Convidamos todos(as) a participarem ativamente na construção desse espaço, onde o preconceito intelectual e a invisibilização não terão lugar.

Foto: Lane Silva

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Criado por Jadson Nascimento

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