Raira Gonzaga, formada em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), encontrou inspiração em sua própria vivência no bairro Nordeste de Amaralina para desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso. Intitulado “Suspensão de aulas como negação do direito à educação: retrato da violência urbana no complexo do Nordeste,” o trabalho explorou os desafios e a cultura da comunidade em que cresceu, abordando temas como estigmatização e desigualdade educacional.
Ao justificar sua escolha, a estudante destacou a necessidade de buscar fontes além dos muros da universidade, encontrando no portal O Que Fazer No Nordeste o suporte teórico essencial para a construção de sua pesquisa. “Essas matérias foram fundamentais para destacar o significado cultural do paredão e empoderar a periferia no ambiente acadêmico, que muitas vezes é elitista”, afirmou, referindo-se a artigos que enriqueceram sua análise sobre a cultura local.
A elaboração do trabalho também foi marcada por desafios pessoais. Vítima de violência urbana, Raira relatou como a experiência de levar um tiro em 2017 mudou sua rotina e afetou diretamente sua trajetória. “Tive que alterar meu horário de trabalho, e isso também influenciou minha escolha pelo turno noturno na universidade, o que não era meu desejo inicial devido à insegurança”, contou. Apesar disso, a notícia de sua aprovação em 2018 foi um marco na busca por realização acadêmica.
Durante o processo de pesquisa, a jovem aprofundou seu conhecimento sobre a história e a realidade do Nordeste de Amaralina. “Mesmo abordando aspectos negativos, foi muito significativo ampliar meu entendimento sobre o lugar em que vivo. Essa experiência foi preciosa”, disse. Raira também refletiu sobre o impacto do uso do termo “complexo” para descrever a comunidade, frequentemente associado à violência, algo que buscou problematizar em seu trabalho.
Para ela, a construção do TCC representou um ato de resistência, ao levar a vivência periférica para o ambiente acadêmico. “É essencial mostrar que existem pessoas periféricas dentro da universidade, representando suas comunidades e trazendo à tona as realidades que acontecem fora dos muros da academia.” Seu objetivo não foi apenas acadêmico, mas também social: “quis denunciar como o poder público afeta negativamente a educação dos moradores de comunidades periféricas.”
Agora formada, Raira planeja continuar contribuindo para sua comunidade, envolvendo-se mais ativamente em movimentos sociais e, possivelmente, criando iniciativas voltadas à educação. “Quero participar das ações que já existem e, quem sabe, criar algo novo.” Ela finalizou com uma mensagem para os jovens do bairro, “a pior parte é entrar; a permanência é questão de paciência. Você vai conseguir. Para quem ainda não entrou: mantenha a fé. Você é semente.”
A trajetória de Raira Gonzaga reflete a força transformadora da educação e da representatividade, demonstrando como a vivência periférica pode ser valorizada e ressignificada no ambiente acadêmico.
Foto: divulgação