A artista visual Thays Eunice (22), natural de Jardim Paulista, em Paulista (PE), está no Rio de Janeiro desenvolvendo um mural no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), localizado na região portuária da cidade. A ação artística dialoga diretamente com o propósito do IPN, um espaço dedicado à preservação e valorização da memória africana e afro-brasileira.
Criado em 13 de maio de 2005, o Instituto Pretos Novos abriga o sítio histórico e arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos — local de sepultamento de africanos escravizados que não resistiam à travessia atlântica. O IPN atua com pesquisas, escavações, manutenção de acervo e atividades educativas que fomentam o debate sobre a escravidão e suas consequências, contribuindo para a construção de uma memória coletiva que enfrente o racismo estrutural.
Thays conheceu o Instituto pelas redes sociais e, a partir de uma aproximação espontânea, propôs colaborações que resultaram no convite para a criação do mural. “Entrei em contato apresentando meu trabalho e, a partir daí, começamos a trocar ideias. Surgiram possibilidades de ações em colaboração, e a ideia do mural foi se desenhando”, conta a artista.


A pintura valoriza a força das mulheres negras, tema recorrente na produção de Thays, que tem na arte urbana um campo potente de expressão e resistência. “Quis representar a força das mulheres negras. A pintura carrega traços de coragem, firmeza e também de afeto. A representatividade está nos detalhes, nos rostos, nas formas — mas, acima de tudo, no direito de ocupar um espaço de memória com imagens que celebram quem somos”, afirma.
O mural foi concebido respeitando a ancestralidade presente no local. Thays ressalta a intensidade do processo.“Foi uma experiência renovadora. Pintar no IPN me trouxe inspiração, mas também uma responsabilidade muito grande. É um lugar onde o silêncio fala, onde a história pulsa debaixo dos pés”.
A jovem artista, que tem se destacado na cena da arte urbana, vê na ocupação dos muros das cidades uma forma de recontar histórias e revalorizar a presença preta nos espaços públicos. “A arte urbana rompe muros simbólicos, ocupa as ruas e dá visibilidade a histórias que foram apagadas. Ela tem o poder de devolver aos nossos olhos o que a cidade tentou esconder”, explica.
O mural de Thays se soma às diversas ações do IPN que buscam reafirmar a importância da memória negra como parte fundamental da identidade brasileira.
Foto: divulgação