Símbolo de resistência e memória negra, o Quilombo Quingoma — reconhecido como o primeiro quilombo do Brasil — recebe, de 10 a 13 de dezembro, as atividades de encerramento do projeto Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos.
Após circular por comunidades quilombolas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o projeto retorna à comunidade de Lauro de Freitas, onde foi inicialmente idealizado. A programação inclui oficinas, rodas de conversa, ações culturais com moradores e a performance Bola de Fogo, do artista Fábio Osório Monteiro, que integra dança, gastronomia e ancestralidade.
Em cena, Fábio ressignifica o gesto ancestral da baiana de acarajé. “Devidamente trajado”, ele prepara a massa, frita os bolinhos e serve o alimento enquanto oferece, junto dele, histórias, memórias e afetos. A cada gesto, o artista costura mitos e itãs de origem africana com episódios de sua trajetória pessoal, transformando a cozinha em território de evocação e partilha. Para ele, o Circuito de Fogo ultrapassa fronteiras artísticas: une arte e ancestralidade ao longo do país.
“Com o Circuito de Fogo, não só a performance, mas toda a equipe, mergulha num processo de aquilombamento. Nesta circulação, percebemos que as camadas sociopolíticas que atravessam Bola de Fogo ganham materialidade a cada comunidade quilombola visitada”, destaca Fábio Osório Monteiro, performer e coordenador geral do projeto.


Com registros históricos desde 1569, o Quilombo Quingoma carrega 456 anos de luta, organização comunitária e memória coletiva. Encerrar a temporada nesse território tem, para Fábio, um sentido profundo. “Encerrar essa primeira edição de Circuito de Fogo no Quilombo Quingoma é como voltar pra casa. Aqui a troca que a gente faz a cada comunidade quilombola visitada, aqui será com a gente mesmo, com os nossos. E tem o movimento de Bola de Fogo retorno. Nossa última apresentação aqui foi em 2018, no FIAC-Bahia. Foram sete anos de muita estrada, até a gente voltar pra casa. Vai ser muito especial!”
Integrante da equipe do projeto e liderança local, a educadora quilombola Rejane Rodrigues realizou a articulação com as comunidades visitadas ao longo do percurso. “Minha atuação nesse projeto é guiada pelo compromisso com a ancestralidade e pela escuta ativa das comunidades. Cada gesto, cada palavra, cada sinal, cada prática é uma forma de honrar aqueles que vieram antes de nós e de garantir que as futuras gerações possam viver com dignidade, liberdade e pertencimento. O Quilombo Quingoma é testemunha viva dessa luta, e é com ele que sigo, firme e esperançosa, semeando saberes, colhendo afetos e alimentando sonhos”, afirma.
Fotos: Carol AÓ
