O Festival Paisagem Sonora chega à sua 7ª edição em Salvador homenageando a vida e a obra do artista plástico, carnavalesco e serígrafo Alberto Pitta, um dos grandes nomes da estética afro-baiana. De 5 a 7 de dezembro, a Casa Rosa, no Rio Vermelho, recebe uma programação gratuita com seminários, lançamentos de livros, exposição e shows, reafirmando a música e as artes como linguagens de memória, resistência e criação coletiva.
Criado na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o festival é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, com apoio da SECADI/MEC, Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura. A cada edição, um artista baiano é escolhido como fio condutor para pesquisas, publicações e ações formativas. Em 2024, Pitta é o centro das reflexões sobre reconfiguração do Carnaval negro, estética afro-brasileira e construção de futuros a partir do legado dos blocos afros.
Para o curador Danillo Barata, a escolha do artista amplia discussões fundamentais sobre resistência e imaginação política no campo das artes. “O artista transforma tecido em linguagem e desfile em rito. Ao ativar o arquivo vivo de Pitta, um sambaqui de imagens, axé e memória, recolocamos a resistência dos blocos afros no centro e projetamos futuros em que o carnaval reconfigura linguagens, políticas e pertencimentos.”
Alberto Pitta: arte que veste o mundo
Pioneiro nas estampas afro-baianas, Pitta construiu uma linguagem visual que atravessa mais de quatro décadas, marcada pela celebração das matrizes africanas e das tradições de sua formação no Candomblé. Filho de Mãe Santinha de Oyá, cresceu imerso em ritos e narrativas que moldam suas criações. Desde os anos 1980, deixou sua marca no Carnaval negro baiano ao desenvolver figurinos e estampas para blocos como Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Olodum e, posteriormente, para o Cortejo Afro, do qual é fundador.


Com obras presentes em acervos no Brasil e no exterior, Pitta transforma o tecido em território: uma trama de símbolos, cores e histórias que liga Brasis, Áfricas e diásporas. Sua produção será celebrada no festival com uma exposição especial e com o lançamento do livro “Alberto Pitta: FúnFún DúDú”, fruto da pesquisa desenvolvida ao longo do ano pelo projeto Paisagem Sonora.
O artista também participa da mesa “Reconfiguração do Carnaval Negro”, ao lado de Afrocidade, Rogério Oliveira e Giba Gonçalves. “Fico lisonjeado, feliz com a escolha do Paisagem Sonora. A gente vem trabalhando a vida inteira. Meu trabalho é único, foi uma escolha. Quando a universidade te vê, reconhece a importância do seu trabalho, isso deixa a gente feliz. O Paisagem Sonora tem um papel muito grande nesse diálogo entre universidade e artistas do nosso povo, da nossa gente.”
Programação: arte, educação e cultura
A edição deste ano reúne cinco seminários, com debates sobre políticas de equidade, processos criativos, educação escolar quilombola, memória e afrofuturismo. Entre eles, destacam-se:
- A Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola
- Paisagens Sonoras: Processos Criativos e Redes do Comum
- Reconfigurações do Carnaval Negro
- Museu Itamar Assumpção: Memória, Música e Afrofuturismo (com Anelis Assumpção)
- Clube da Radiola “Atrás do Por do Sol”, com Lazzo Matumbi
Além do livro dedicado a Pitta, o Selo Editorial Anjo Negro, vinculado ao festival, lança outras obras no dia 05, como Mateus Aleluia – Nações do Candomblé: Jeje, Bembé do Mercado – Dossiê de Registro como Patrimônio Cultural do Brasil e o box com os 21 Cadernos de Educação do Ilê Aiyê. No mesmo dia, no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, será lançado o livro e documentário “Pedagogia da Ancestralidade”, em homenagem aos 100 anos de Mãe Stella de Oxóssi.
Shows
A programação musical reúne artistas e grupos que dialogam com a memória e a contemporaneidade da música negra baiana:
- 05/12 – Cortejo Afro (convida Arto Lindsay) + Afrocidade
- 06/12 – Márcia Castro e sua Roda de Samba Reggae + Olodum
- 07/12 – Ilê Aiyê + Lazzo Matumbi (convida Anelis Assumpção)
Fotos: Roberto Abreu
