Racismo no futebol: Vinícius Jr. lidera, mas quem o apoia?

O racismo no futebol parece ser uma constante que insiste em manchar o esporte mais popular do mundo. Nos últimos dias, um jogo entre youtubers espanhóis e franceses em Madri trouxe à tona mais uma vez o racismo nas arquibancadas. A proposta de uma partida amistosa, foi interrompida quando jogadores franceses acusaram um torcedor de imitar gestos de macaco. 

A reação dos jogadores foi imediata, abandonando o campo e marcando uma posição firme contra o racismo. O incidente ecoou o que o jogador brasileiro Vinícius Júnior enfrentou na Espanha em 2023, em uma luta que transcendeu os gramados e provocou mudanças no país.

Vinícius Júnior, ou Vini Jr., fez muito barulho — e o mundo ouviu. Em um jogo entre Valencia e Real Madrid, ele foi alvo de insultos racistas vindos da torcida adversária. Mas, desta vez, algo diferente aconteceu: três torcedores foram condenados a oito meses de prisão, além de multas e proibição de entrar em estádios por dois anos. Essa foi a primeira vez que a justiça espanhola condenou alguém criminalmente por racismo no futebol, e essa mudança não teria ocorrido sem a coragem do brasileiro. Ele denunciou e foi além,  desafiou o sistema, recusando-se a ser a vítima. “Não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas”, disse ele, marcando sua posição como um combatente de uma causa que deveria ser de todos. 

O barulho mudou a percepção na Espanha. Até então, episódios racistas no futebol eram rotineiros e, muitas vezes, minimizados ou ignorados. Mas a pressão aumentou, e finalmente houve respostas. O racismo deixou de ser apenas um problema que poderia ser “esquecido” nas arquibancadas e passou a ser reconhecido como uma questão de justiça. No entanto, é preciso se perguntar: por que levou tanto tempo? Por que ainda é tão difícil para jogadores e membros da comissão técnica denunciarem as agressões?

Muitos jogadores ainda temem as consequências de se posicionarem contra o racismo. A estrutura racista do esporte e da sociedade como um todo silencia atletas, especialmente aqueles que não possuem o mesmo status de estrelas como Vinícius. O medo de perder espaço, de serem vistos como “problemáticos” ou de sofrerem retaliações é real. Jogadores negros como Aranha, Barbosa e Taison sentiram isso na pele ao reagirem ao racismo — e foram penalizados, enquanto o sistema permanecia intacto.

E os jogadores brancos? Qual é o papel deles? Quando vemos um escândalo racista como o ocorrido com o PSG e Istanbul Basaksehir, onde todos os jogadores deixaram o campo em solidariedade a um membro da comissão técnica insultado racialmente, surge uma luz de esperança. Contudo, por que tais reações ainda são exceção, e não regra? A ausência de apoio consistente de grandes estrelas brancas do futebol é evidente. 

Atletas brancos muitas vezes optam por se manter neutros, como se a luta contra o racismo fosse uma batalha exclusiva dos negros. Mas o silêncio também é uma escolha. Quando grandes nomes do esporte, como Messi ou Cristiano Ronaldo, não se manifestam publicamente contra o racismo, isso diz muito. Onde estão eles quando colegas são agredidos por sua cor de pele?

No Brasil, os números não deixam dúvidas: o racismo no futebol está crescendo. O 10º Relatório da Discriminação Racial no Futebol, divulgado em 2023, mostra um aumento de 38,77% nos casos de racismo em relação ao ano anterior. Foram registrados 136 incidentes racistas, contra 98 em 2022. Desde 2016, os casos só aumentam, revelando uma sociedade ainda profundamente marcada pela discriminação racial. Mas há também um ladoy positivo nisso tudo: a conscientização está crescendo. Torcedores e jogadores estão mais dispostos a denunciar, a exigir que o racismo seja combatido, e a recusa de aceitar o status quo está se tornando mais visível.

Ainda assim, a luta está longe de terminar. Se Vinícius Júnior é um exemplo de resistência e de mudança, também é um lembrete de que o caminho para um futebol verdadeiramente inclusivo e livre de racismo passa pela ação conjunta de todos, negros e brancos. Afinal, até quando grandes atletas brancos vão continuar ignorando uma luta que deveria ser de todos? Quando veremos a verdadeira união contra o racismo dentro e fora de campo?

E você, por quanto tempo mais vai achar que o racismo no futebol é problema dos outros?

Foto: reprodução

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Criado por Jadson Nascimento

Contatos

Salvador - BA
71 9 8618-8303
Email: portaldiaspora1@gmail.com

Seja avisado dos nossos conteúdos pelo email

© 2022 DIASPORA Todos os direitos reservados.