Exposição “Ele é Xangô” ocupa a Casa do Benin em agosto

A partir do próximo sábado, 2, às 11h, a Casa do Benin, no Pelourinho, recebe a exposição “Ele é Xangô – Nos Terreiros do Candomblé em Salvador”, do artista visual e fotógrafo Iuri Marc. Em cartaz até outubro de 2025, a mostra reúne 23 fotografias em preto e branco, duas instalações de forte carga simbólica, uma ocupação sonora documental e oficinas educativas. As obras ocupam o espaço Tata Somba e o pátio interno do museu, revelando o cotidiano ancestral das tradições dos povos de terreiro em Salvador.

Resultado de uma imersão entre os anos de 2020 e 2024, o trabalho de Iuri Marc transita entre arte e devoção, nascendo de uma pesquisa artística e etnográfica vivida em terreiros como o Ilê Axé Ewé, casa de tradição Jeje-Nagô. O artista dedica seu olhar à presença “vento” dos orixás nos Ilês, com especial reverência a Xangô – senhor da justiça e do fogo. Mais que uma exposição, “Ele é Xangô” é saudação e testemunho. Uma escuta visual dos gestos e símbolos que sustentam a cosmologia africana no Brasil. Por meio das fotografias, instalações e ações formativas, o visitante é convidado a partilhar do sagrado e reconhecer, em cada quartinha, em cada folha, a sabedoria que sustenta os rituais. A curadoria é de Marcelo Gobatto e Macauly Oliveira.

Logo na entrada, a instalação Corpo-Esteira apresenta seis esteiras de palha em referência ao barco de filhos de santo da Mãe Simplícia de Ogum Dequissi, importante ialorixá da Casa Oxumarê. Chamadas também de eni, dicissa ou esteira nagô, essas esteiras são mais que objetos: são corpos que acolhem, sustentam e iniciam. Sobre elas, os iaôs ajoelham, sonham, renascem. São testemunhas do borí, dos sacrifícios, dos ebós. Ao lado, alguidares com pigmentos efum, osún e uáji – utilizados nos rituais de feitura – e paramentas de orixás forjadas por um mestre ferreiro baiano reforçam a conexão entre corpo, matéria e divindade. A esteira, aqui, é linguagem e templo: liga o aiyé ao òrun, a terra ao céu.

Na sala Tata Somba, outra instalação propõe uma série de moringas feitas de barro, ressignificadas com pinturas, tecidos, penas, cabaças, búzios e mariwô. Essas moringas representam os Òrìsàs que protegem e guiam – Xangô, Ogum, Iansã, Obá, Oxóssi, Iemanjá, Oxum, Obaluaê e Oxalá – e se tornam, assim, testemunhos visuais da força espiritual que habita os terreiros.

As 23 fotografias da exposição, impressas em tecido e canvas, foram realizadas em terreiros como o Ilê Axé Ewé, a Casa do Mensageiro e o Ilê Axé Omin Ijexá Miro. Longe de qualquer exotização ou espetáculo, os registros revelam a intimidade dos rituais com sensibilidade e respeito. “Não há espetáculo, mas silêncio; não há pose, mas presença.” Corpos assentados entre quartinhas e velas, gestos suspensos em transe, olhares recolhidos e folhas frescas revelam a filosofia de um povo que mantém viva a ligação entre passado, presente e futuro. Cada imagem carrega um tempo ancestral que retorna, um tempo Sankofa – onde os mortos nunca morrem e os Òrìsàs jamais deixam de pisar esta terra.

A mostra amplia seu caráter formativo com o documentário “Ele é Xangô! Resistência e Cura nos Terreiros do Candomblé”, dirigido por Iuri Marc e Junior Mascarenhas. O filme, disponível no Instagram do artista (@iurimarc), reúne memórias e relatos da Àgbá Dó de Ossain (Ilê Axé Ewé) e da Àgbá Nilza de Ogum (Casa Oxumarê), mulheres que preservam e atualizam os caminhos de Xangô, Ossain e Ogum.

Durante o período expositivo, será realizada ainda a Oficina Folhas Sagradas, voltada para o estudo dos fundamentos das folhas no Candomblé, suas relações com os orixás, banhos e cânticos. Ministrada por Iuri Marc e um mais velho de terreiro convidado, a oficina será gratuita e aberta ao público em geral, com foco em estudantes da rede pública. Datas e inscrições serão divulgadas pelo perfil do artista no Instagram.

A exposição “Ele é Xangô” foi contemplada nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Bahia e conta com apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura do Estado, via PNAB, com recursos do Ministério da Cultura – Governo Federal.

Fotos: Iuri Marc.

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Criado por Jadson Nascimento

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