Em Why Not More?, Coco Jones reafirma o que muitos já sabiam: sua voz tem força, alma e textura suficientes para sustentá-la entre os grandes nomes da nova geração do R&B. Ex-estrela da Disney, a cantora não apenas honra o legado do gênero com interpretações firmes e emotivas, mas também brinca com elementos contemporâneos — passeando entre reggae, trap, pop e soul com a leveza de quem nasceu para os palcos. Sua entrega é sedutora e envolvente, marcada por uma voz que tanto evoca o blues clássico quanto desafia o ouvinte a sentir, dançar e refletir.
A abertura com “Here We Go (Uh Oh)” é um ponto alto imediato, revelando a habilidade da artista em incorporar referências do passado com frescor. A música, que sampleia a icônica balada “‘Cause I Love You”, de Lenny Williams, é uma verdadeira aula de interpretação: Coco canta sobre rupturas e recomeços com intensidade emocional rara, equilibrando paixão e vulnerabilidade.
Sua potência vocal é o fio condutor que amarra o disco, mesmo nos momentos menos inspirados. Não à toa, a Rolling Stone descreveu o álbum como uma “declaração de intenções confiante e suntuosa”, apontando Coco como uma das forças mais promissoras do atual cenário R&B.
Há também um charme inegável em faixas como “Why Not More?”, que traz um toque de reggae solar e descontraído — o tipo de som que convida para uma tarde preguiçosa à beira da piscina. E mesmo as canções com apelo mais sensual, como “Taste” e “AEOMG”, não deixam de explorar texturas interessantes, demonstrando que Coco sabe como traduzir desejo em melodia sem escorregar na caricatura. A produção, assinada com esmero, revisita timbres do Quiet Storm, batidas caribenhas e até inspirações eletro à la Timbaland, compondo uma atmosfera quente e dançante. É um álbum que seduz, diverte e exala confiança.
No entanto, Why Not More? não está livre de ressalvas. O principal entrave é a limitação temática de algumas composições, que apostam em letras genéricas e pouco reveladoras. Há uma carência de profundidade emocional que, se estivesse presente, poderia transformar o disco em algo ainda mais memorável. O excesso de faixas com estrutura previsível e lirismo superficial impede que Coco mostre toda a complexidade artística que se percebe nas entrelinhas de sua interpretação vocal. A sensação é de que há muito mais a ser revelado — e que, talvez, o melhor de Coco ainda esteja por vir.
Ainda assim, é impossível ignorar o valor do projeto. Mostrando que existem pontos a lapidar e desenvolver, Why Not More? entrega um R&B atual, quente, sexy e espirituoso, provando que o gênero está longe de perder relevância. Coco Jones é um nome que merece atenção: sua voz é poderosa, sua presença é magnética e seu potencial é vasto.
Se ela decidir apostar mais em experimentações e narrativas que aprofundem sua identidade, poderá ocupar com folga o espaço reservado aos grandes nomes da música negra contemporânea. Por enquanto, o que temos é um álbum delicioso, que embala e encanta — mesmo que nos deixe querendo um pouco mais.
Foto: divulgação